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AMADEU DA COSTA MONTEIRO

Teve o câncer de mama aos 60 anos, mais de 20 anos antes de fazer a foto para a Exposição De Peito Aberto. Enfrentou o estigma da doença e hoje, com mais de 9 décadas de vida, continua incentivando mulheres e homens a se examinarem e se cuidarem.

Amadeu nasceu em Portugal, em Braga, na região do Minho. Aos 60 anos, ou seja, 24 anos antes de fazer a foto para De Peito Aberto, descobriu o câncer de mama. Ele veio jovem para o Brasil, aos 15 anos, para tentar uma vida melhor. Foi primeiro para o Rio de Janeiro, onde durante muitos anos pôde exercer sua profissão de alfaiate. Em 1965, se mudou para Curitiba, casou e teve três filhos. Resolveu mudar de profissão algumas vezes: teve uma editora, foi para o ramo da hotelaria e depois para construção. ”Trabalhar sem parar é a minha receita para não ficar velho”. Realmente, Amadeu está sempre a mil por hora. Ele fundou o Clube Rotary em Curitiba e juntou um bom grupo de mulheres. A vida ia bem, até que, num grave acidente, sua esposa faleceu. Amadeu ficou viúvo com três crianças para criar.

A descoberta do câncer

“Era 6 de maio de 1987. Estava no banho quando percebi um caroço no mamilo. Achei aquilo estranho e fui procurar um médico, que me disse: ‘Não é nada, mas é bom fazer uma biópsia’. Nem sabia o que aquilo significava. Em todo caso, fui procurar outro médico e ouvi a mesmíssima frase: ‘Não é nada, mas é bom fazer uma biópsia. Percebi que a coisa era séria e devia mesmo ter alguma coisa. Fui fazer a tal biópsia e quando o resultado chegou o médico me chamou em seu consultório. Ele abriu o envelope e, muito sério, olhou para mim e disse: “Sr. Amadeu, infelizmente o resultado foi positivo. O senhor tem câncer de mama.” O consultório ficava na Av. Sete de setembro, no sétimo andar. O médico estava de costas para a janela e eu olhando de frente para ela. Lembro-me bem que olhei para a janela e, por alguns instantes, fiquei a calcular se o tamanho era suficiente para eu passar. Já havia tomado a decisão: ia me jogar dali mesmo, passando pelo vidro. Na mesma hora, outra imagem apareceu na minha mente: lembrei-me de meus filhos pequenos, de 9, 10 e 11 anos. Eles tinham perdido a mãe e ia ficar também sem o pai. Estremeci todo e desistir do plano de me jogar”.

Nessa hora, o que passou pela cabeça de Amadeu é o que assusta muita gente. O diagnóstico de câncer parecer ser mesmo uma ‘sentença de morte’. “O médico não percebeu o que eu estava pensando. Na minha mente havia uma certeza: se era câncer, então a morte estava à frente. Para mim, era morte certa. Logo ele disse: ‘Agora vou ter que te encaminhar para outro médico, um ginecologista’. Na época, não havia mastologistas em minha cidade e era o ginecologista quem avaliava e cuidava deste tipo de caso. Então, lá fui eu, bem apavorado, ser tratado no meio de um monte de mulheres. Mas o médico me acalmou e disse que aquilo era o cafezinho diário dele. Eu fiquei 50% aliviado”. Hoje, Amadeu lembra do episódio fazendo graça.

“Me recordo de um dia na recepção do ginecologista em que estava eu lá esperando a consulta junto com várias pacientes e uma delas quis saber: ‘O senhor veio acompanhar sua esposa?’ ‘Sou viúvo.’, respondi meio sem jeito. Mas ela insistiu: ‘Ah, então está aqui junto com sua filha, não?’ Eu fiz que não com a cabeça. ‘Sua nora, então?’ Para deixa-la bem sem jeito eu terminei o assunto: ‘É para mim mesmo’. E todas ficaram com aquela cara de interrogação, impagável”.

Amadeu recorda também dos momentos após a cirurgia e de como foi enfrentando cada etapa. “Fiz a cirurgia e foi tudo bem. Lembro que estava no hospital e a enfermeira apareceu. Ela me mandou levantar e me levou para o banheiro para me dar banho. Eu disse a ela: ‘Como assim? Já posso?’ ‘Claro que sim, vamos levantar’, ela respondeu. Eu estava com dreno e ela me deu o banho. Depois, na volta do banho, ela me colocou sentado no sofá para tomar o meu café e avisou: ‘Nada de ficar deitado, depois do café o senhor vai dar uma volta no corredor’. E lá fui eu dar a voltinha com meu ‘cachorrinho’, que era como eu chamava o dreno amarrado em mim.”

Amadeu, lembra de cada detalhe com muito carinho e alegria e nos conta tudo, com seu sotaque português bem carregado. “Enquanto estava sentado para tomar meu café, entrou no quarto uma senhora muito bonita, uma quarentona em seu peignoir, e me vendo ali, com cara de assustado, me falou: ‘Que cara é essa? Vamos, mude essa cara’. ‘É a única que eu tenho’, respondi sem paciência. ‘Fique feliz! Estamos no mesmo barco e nós vencemos. Eu já estou aqui de volta ao hospital para reconstruir a outra e ficar com tudo no lugar, bem bonita’, respondeu, tentando me alegrar. Aquele otimismo me ajudou muito naquela hora”.

Ele ainda relembra e faz questão de relatar o que aconteceu depois, quando começou a fisioterapia. “Como além da mastectomia, precisei fazer esvaziamento axilar, tirei todos os gânglios da axila. A cirurgia foi bem grande e deixou meus movimentos bem prejudicados. Não conseguia levantar os braços. A fisioterapeuta que cuidava de mim era bonita, mas bem fortinha, e não dava mole. Ela me mandava fazer todos os movimentos, mas doía muito. ‘Vai, seu Amadeu, vamos lá, não para, não’, insistia comigo. E as lágrimas rolavam pelo meu rosto de tanta dor, mas ela não sentia dó e continuava. Um dia, eu brinquei com ela: ‘Sabe, eu vou te arrumar um marido, assim você judia bastante dele em casa primeiro e, depois, quando vier me tratar, fica mais boazinha’”. Assim, com muito bom humor, mas levando tudo a sério, ele se cuidou até receber alta.

Depois de tudo isso, senhor Amadeu mudou-se para Santa Catarina num novo ramo de trabalho, conheceu a nova esposa, que tinha uma filha, Michelle, de 11 anos. Até hoje, Amadeu com mais de 90 anos junto com a enteada, que trabalha na área de saúde, são ativistas na luta contra o câncer de mama. Ele faz exercícios, gosta de nadar e em suas palestras conta sua experiência e alerta para todos que homens também tem câncer de mama e que é preciso vencer o preconceito para se cuidar e viver.

‘Que cara é essa? Vamos, mude essa cara’. ‘É a única que eu tenho’, respondi sem paciência. ‘Fique feliz! Estamos no mesmo barco e nós vencemos. Eu já estou aqui de volta ao hospital para reconstruir a outra e ficar com tudo no lugar, bem bonita’, respondeu, tentando me alegrar. Aquele otimismo me ajudou muito naquela hora”.

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