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CRISTIANE SCOMAZZON

Conhecemos Cristiane em Porto Alegre, cidade onde ela vive e dá aulas de técnica vocal. Durante a sessão de fotos, Kiss, como ela gosta de ser chamada, agora com 42 anos, contou como se reinventou ao ter que enfrentar o câncer há três anos. A professora de música mostrou o corpo e a alma em fotos lindas. Neste depoimento ela relata o processo que vive, desde a descoberta do câncer até agora, cheio de desafios e também de oportunidades.

“Nasci no município de Garibaldo, aqui no Rio Grande do Sul e com 17 anos mudei-me para Porto Alegre. Em 2016, resolvi realizar um sonho e passar o réveillon em Maceió. Estava com 39 anos. Em frente ao mar, tranquila naquele paraíso, decidi registrar o momento em uma selfie: fiz a pose, me abracei e toquei meu seio. Na hora percebi um ponto mais inchado. ‘Será que é uma costela fora do lugar?’, me perguntei. Mas rapidamente, ali mesmo, sozinha, eu disse para mim mesma: ‘É câncer!’”.

“Cheguei a pensar: ‘Será que eu vou morrer? Mas não posso partir ainda. Se eu morrer agora, vou morrer infeliz’”.

E era mesmo. Um câncer dos mais agressivos: do tipo triplo negativo. Ainda bem que Kiss não demorou para buscar o diagnóstico e um bom tratamento. “Tive a sorte de ser tratada por uma ótima equipe médica, coordenada pela mastologista Maira Caleffi, uma referência em tratamento de câncer de mama não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo país”.

No início não foi fácil e Kiss se deparou com alguns dilemas. “Cheguei a pensar: ‘Será que eu vou morrer? Mas não posso partir ainda. Se eu morrer agora, vou morrer infeliz’”. A partir dessa constatação e da situação concreta que enfrentava ela decidiu mudar de postura. “Não tinha escolha. Resolvi lutar”.

Um dos momentos mais desafiadores para Kiss foi a retirada da mama. “Além de perder o peito foi embora com ele muito tecido. Ou seja, não dava para reconstruir o mamilo. Por enquanto, até este momento, não dá. Ainda uso o expansor de pele. Fui muito bem cuidada, por ótimos profissionais, mas, mas, em função da retirada do tumor, a cicatriz ficou feia e isso me abalou bastante. Não sou de ferro. Chorei bastante. Tive síndrome de pânico. Essa mudança na minha imagem mexeu muito comigo”.

“Em cada etapa do tratamento era preciso quebrar barreiras, como a de se abrir para procurar ajuda.”

Receber apoio foi importante para ela, mas antes disso ela tinha que enfrentar outra prova. “Foi muito difícil contar para minha mãe que eu estava com câncer. Eu não sabia como dizer. Fiz terapia para descobrir a melhor forma de dar a notícia à ela. Como eu esperava, ela ficou chocada. Mas depois ela e toda família me deram todo o apoio. Eles foram e são fundamentais para mim”.

Em cada etapa do tratamento era preciso quebrar barreiras, como a de se abrir para procurar ajuda. “A primeira quimio eu fiz sozinha. Logo vi que não daria conta e então pedi para minha mãe me acompanhar. Ela, que sempre me viu como a menina forte e independente, não imaginava que eu ia precisar tanto dela e chegou a me dizer: ‘Ah, hoje eu não posso, estou muito ocupada’. Aprendi a pedir ajuda e vi que isso não me diminuía nem me enfraquecia. Muito pelo contrário. Eu respondi: ‘Mãe, você não está entendendo, hoje, agora, eu preciso de você. Preciso que venha ficar comigo durante as quimioterapias.’ Ela se surpreendeu e entendeu. Daí em diante minha mãe esteve todo o tempo comigo. As irmãs delas, minhas tias, se revezavam para ajudar”.

“Dei um novo significado a muitas coisas na minha vida. Passei a me dedicar a ser quem eu quero ser e não alguém que os outros queriam que eu fosse.”

Kiss nos contou que o câncer mexeu muito com ela, inclusive a levando a repensar suas escolhas pessoais e profissionais. “Dei um novo significado a muitas coisas na minha vida. Passei a me dedicar a ser quem eu quero ser e não alguém que os outros queriam que eu fosse. Foi um grande aprendizado. Deixei de me esforçar para corresponder às expectativas dos outros e foquei em concretizar meus sonhos e me realizar como pessoa. Penso duas vezes antes de assumir compromissos. Agora escolho o que me completa e que tenha algum significado. No trabalho, por exemplo, não queria apenas uma atividade bem remunerada que me sustentasse. Hoje, prefiro abrir mão de grandes somas para fazer o que me faz feliz. Ganho menos, mas primeiro penso sempre no meu bem-estar”.

Formada em música, Kiss teve que se reinventar. “Com a cirurgia, por causa da retirada dos linfonodos sentinela, meus movimentos ficaram prejudicados. Ainda sinto dor se fico muito tempo na mesma posição. Tocar violão e teclado deixou de ser uma opção profissional. Não ia abandonar o que amo fazer, então, passei a ensinar técnica vocal e estou pensando em fazer outra faculdade, agora de fonoaudiologia”.

“No início tinha vergonha da cicatriz. A vergonha era tanta que, quando estava com meu companheiro atual, eu até tomava banho de sutiã.”

Os relacionamentos afetivos tiveram um papel importante na jornada de Kiss. “Quando descobri o câncer meu namorado estava comigo naquela viagem à praia dos sonhos. Porém, quando recebi a confirmação de que era mesmo câncer, ele ficou abalado, teve até labirintite. Acredito que tenha sido porque a mãe dele havia falecido por causa de um câncer no intestino e passou um filme na cabeça dele… Mas, mesmo assim, ele me acompanhou em todo processo inicial. O apoio dele foi importante. Hoje, me envolvi com outra pessoa e meu companheiro foi – e continua sendo – fundamental para eu recuperar minha autoestima”.

Hoje, Kiss já está bem resolvida com as mudanças no corpo, mas não foi sempre assim. “No início tinha vergonha da cicatriz. A vergonha era tanta que, quando estava com meu companheiro atual, eu até tomava banho de sutiã. Não conseguia mostrar o corpo. Até que um dia ele me viu no chuveiro de costas sem o sutiã. Ele nunca tinha falado nada a respeito. Sempre respeitando o meu tempo. Depois, com muito carinho me disse: “Me senti muito honrado por você ter tirado o sutiã. Agora você me provou que é mesmo a mulher da minha vida!”. Estamos juntos até hoje. Nossa brincadeira é que somos a dupla “cancan”, porque ele também teve câncer de próstata. Ele só não vai comigo nas campanhas do Outubro Rosa. É mais reservado. Mas acha ótimo que eu vá. E me diz: “Tu vai fazer o que tem que fazer por você!”

Conhecer um grupo de apoio ajudou muito a Kiss. Por isso é tão importante divulgar e apoiar entidades, como o Instituto da Mama de Porto Alegre, o IMAMA, que dá todo tipo de suporte para quem passa pelo câncer. “Eu não sabia do IMAMA. Quando me disseram que existia essa instituição fui conhecer. Cheguei careca na sede e lá me ofereceram uma peruca. Foi incrível. Eu já me candidatei e hoje faço trabalho voluntário para o IMAMA. Lá fui recebida por alguém que disse: ‘Eu também tive câncer, vai passar’. Isso me encheu de coragem. E quero poder fazer o mesmo para outras pessoas. Dar força para quem está precisando me faz bem, me faz sentir útil e isso eleva a autoestima”.


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