Proteção solar é um capítulo à parte para a delicada pele de quem está fazendo quimioterapia e radioterapia. Saber como se proteger corretamente e quais produtos e acessórios usar é fundamental para evitar que queimaduras, manchas, bolhas e outras alterações apareçam e comprometam seu bem-estar e sua autoestima.

“Tomar distância do sol para alguém que vive num país tropical como o Brasil é uma das tarefas mais difíceis de serem cumpridas. Porém é absolutamente necessária para quem está em tratamento oncológico”, afirma a dermatologista Kédima Nassif. E não custa lembrar que esse conselho não se resume a suspender as idas à praia e à piscina, mas também deve-se evitar a exposição solar em situações corriqueiras, como sentar para ler uma revista na varanda de casa, molhar as plantas do quintal, esperar o ônibus no ponto, caminhar até a padaria e conversar com a vizinha no portão. Claro que, para se proteger, você não precisa morar numa bolha ou viver no escuro. Basta reforçar os cuidados, escolhendo o protetor solar certo, adequado à condição da sua pele, e aplicá-lo da maneira correta. É importante aumentar ao máximo a proteção, usando alguns acessórios que ainda vão deixá-la mais bonita e cheia de estilo.

Protetor solar ideal

Há dois tipos do protetor solar: o químico, que é formulado com substâncias que absorvem os raios ultravioleta e os transformam em radiação de baixa energia, que não agride a pele; e o físico, que, como o próprio nome diz, forma uma barreira física que reflete o sol, evitando que ele atinja a pele. “Hoje em dia, boa parte dos produtos combinam os filtros físicos e químicos. Mas, durante o tratamento oncológico, há quem opte apenas pelo físico, já que o óxido de zinco e o dióxido de titânio são os únicos ingredientes usados em protetor solar que não têm risco de penetrar na pele. Isso pode ser uma vantagem quando a gente lembra que durante a quimioterapia e a radioterapia a imunidade fica mais baixa e a pele se torna mais frágil. Algumas vezes, até surgem lesões, que podem aumentar os riscos de alergia ou irritação”, destaca o farmacêutico e pesquisador em fotoproteção na Universidade de Campinas (Unicamp) Lucas Portilho.

A dermatologista Kédima Nassif concorda com ele, mas ressalta que, do ponto de vista dermatológico, não é preciso se limitar a usar um protetor solar físico se a pele estiver íntegra e a pessoa não for alérgica aos ativos da fórmula. “Como nessa hora não dá para arriscar, o melhor a fazer, sempre, é consultar o seu médico antes de ir às compras. Afinal, ele conhece melhor do que ninguém a sua pele, o estado em que ela se encontra e a trajetória do seu tratamento”, esclarece. Seja qual for a recomendação, não se esqueça de proteger inclusive as orelhas e a nuca usando o mesmo produto do rosto ou do corpo, além de produtos próprios para os lábios, já que, durante a quimioterapia, pode ocorrer inflamação em áreas de mucosa, como a boca, provocando dor, inchaço e lesões com secreção. Um bom protetor labial é o que contém FPS (fator de proteção solar) 15, no mínimo; se a embalagem não trouxer essa informação, certifique-se de que haja pelo menos dois sinais de mais (+) ao lado da inscrição UVA. “Dependendo da sua rotina, se você não transpirar demais nem se expuser diretamente ao sol, a reaplicação do produto, tanto o labial quanto o facial e o corporal, poderá ser feita a cada quatro horas. Caso contrário, se for para a rua e também se a pele estiver sensibilizada, reduza o intervalo para duas horas. Caso ela apresente lesões, é importante consultar um médico para avaliar a necessidade de suspender o filtro e adotar outras formas de proteção, com acessórios, por exemplo”, avisa a doutora Kédima Nassif.

Reforço na proteção

Para intensificar a proteção proporcionada pelo cosmético ou pelo filtro solar ou até mesmo para substituí-lo quando a pele estiver machucada (sempre orientada por um médico para o seu caso específico), os acessórios são uma ótima pedida – sem contar que deixam você ainda mais bonita e esbanjando estilo! Um lenço na cabeça ou ao redor do pescoço, um belo chapéu de aba larga, uma camisa de mangas compridas e gola alta, óculos escuros, luvinhas para dirigir e sombrinha feita com tecido com proteção solar aumentam a barreira física contra a radiação solar quando você precisa sair de casa. Invente a sua moda. Aproveite que seu momento é bem particular e crie looks que combinem com você. Ouse em composições que em outras ocasiões você nem pensaria em usar. Enfim, divirta-se enquanto se protege corretamente.

Não custa lembrar que a roupa ou o acessório não substitui o protetor solar. E que é preciso esperar alguns minutos para o produto secar antes de se vestir. Além do quê, o protetor solar sempre deve ser o último cosmético a ser aplicado.

Cuidado também com a luz visível

Lâmpadas fluorescentes e outros dispositivos que possuam LED, caso da tela do computador, da tevê, do tablet e do celular, emitem um tipo de radiação que consegue penetrar profundamente na pele e não só acelerar o envelhecimento como provocar manchas e queimaduras. Uma série de estudos indica que a melhor proteção contra essa ‘claridade’, que também pode atravessar o vidro da janela de casa e do carro, é o filtro solar com cor. E ele ainda ganha pontos por dar uma leve corada à pele, deixando a aparência mais bonita durante o tratamento oncológico, quando o rosto tende a ficar pálido, sem viço e com as olheiras ressaltadas.

Dose certa

Seja qual for o benefício oferecido pelo filtro solar, ele só será alcançado se o produto for aplicado na quantidade adequada. “Caso contrário, o produto perde sua eficiência. Ou seja, um filtro com Fator de Proteção Solar 30 pode agir como um FPS 8 e um FPS 50 como um FPS 17”, compara o farmacêutico Lucas Portilho, que indica usar em cada parte do corpo (braço, perna, barriga, etc.) e também no rosto o equivalente a uma colher de café cheia ou uma colher rasa de sobremesa de protetor solar. Lembrando que o FPS é uma medida de eficácia do protetor. Ou seja, quanto mais alto o FPS, mais protegida está a pele. O FPS também indica o tempo de proteção contra os raios UVB. Ou seja, um FPS 30 protege a pessoa durante 30 minutos. Mas se ela entrar na água ou transpirar demais, deve reaplicar o produto mais cedo. Portanto, nada de economizar, combinado?

Concluindo, esta é uma fase em que você deve tirar férias do sol e se proteger ao máximo. E aproveite para incorporar o bom hábito de usar o protetor solar por toda a vida.

“Trabalho com formulação de protetor solar há 20 anos. Assim que minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama, contei com a ajuda do médico dela para criar um produto especial que a protegesse do sol e a ajudasse a minimizar o ressecamento durante a quimioterapia e a radioterapia. Em busca da ‘fórmula perfeita’ – que leva em conta o tipo de pele e seu estado durante o tratamento oncológico – optei pelo filtro físico e livre de fragrância, conservantes químicos, sem agentes agressivos para a pele sensível. Usei conservante vegetal, um tom de base para dar uma coloração saudável ao rosto e um ativo hidratante capaz de formar um filme sobre a pele. Esse cuidado foi essencial para minha mãe durante o tratamento.” 

Lucas Portilho, farmacêutico, pesquisador em fotoproteção na Unicamp e filho da Cristina, que fez químio, extraiu parte da mama e está em tratamento de radioterapia.