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Sim, a vida sexual da mulher que enfrenta o câncer passa por muitos desafios. As questões emocionais afetam a libido, assim como os medicamentos – tanto da quimioterapia como os que são usados depois, às vezes por cinco ou dez anos – provocam efeitos físicos que não são exatamente estimulantes. Soma-se a isso a autoimagem afetada pela perda de cabelo, em razão de redução ou aumento de peso e da cirurgia para retirada das mamas ou de parte delas. Enfim, muitas vezes, é difícil não sentir-se retraída ou impedida de se relacionar. A situação se agrava quando o diagnóstico é recebido na idade reprodutiva, por envolver o risco de não conseguir engravidar no futuro. Contudo, é importante encarar a saúde sexual como parte do tratamento. O médico deve ser consultado a respeito das formas de contornar cada um dos obstáculos que surgirem; lembrando que muitas dessas chateações vão embora depois que o tratamento acaba. No entanto, não é preciso esperar até lá para voltar a dar e receber prazer.

Sob o ponto de vista emocional, o impacto causado pelo diagnóstico do câncer é tão grande que pode afetar e até eliminar a importância da vida sexual durante algum tempo. E tudo bem ser assim, desde que haja o cuidado – e que se procure ajuda – para não deixar a situação se tornar permanente. Afinal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece o impacto da sexualidade no bem-estar e na preservação dos relacionamentos de quem está em tratamento. Tanto que já existe um termo para isso, a oncossexualidade, que ajuda a comprovar que a evolução no cuidado oncológico tirou o foco da sobrevivência para colocá-lo na melhora da qualidade de vida. “Mesmo que a saúde sexual não esteja entre as prioridades de quem passa ou passou pelo câncer, sob o aspecto psicológico o sexo auxilia na conexão emocional consigo mesma e também com o(a) parceiro(a). Por isso esse assunto também precisa ser tratado sem medo ou vergonha junto à equipe cuidadora”, reforça a psicóloga e educadora sexual Tatiana Presser, do Rio de Janeiro. Atentar para isso se torna ainda mais importante quando se sabe que, de cada dez sobreviventes de câncer, entre três e cinco ficam com alguma disfunção sexual. E isso pode ser evitado.

Tem solução

A dor durante a relação sexual é uma das reclamações mais comuns da mulher no tratamento do câncer. E vale saber que ela nem sempre surge na região genital; por exemplo, o incômodo nos braços após a mastectomia que tira o desejo de se relacionar e afeta o prazer na hora do sexo. Já o desconforto na área genital geralmente surge pelos efeitos colaterais dos tratamentos oncológicos. A secura vaginal e a queda da libido são provocadas pela quimioterapia. Já o estreitamento do canal vaginal e anal podem ser causados por inflamações decorrentes da radioterapia.  Isso sem contar a diminuição da sensibilidade nas mamas após a retirada de um quadrante ou a sensação de deixar de ser atraente depois de passar pela mastectomia. Embora tudo isso possa acontecer, é fundamental entender que nenhuma dessas situações interfere na capacidade de sentir prazer sexual; só é preciso reaprender a buscá-lo do jeito mais confortável possível. E a equipe multidisciplinar, formada por oncologista, ginecologista, psicólogo e fisioterapeuta, por exemplo, pode ajudar – e muito – nisso.

As soluções costumam passar pelo uso de hidratantes vaginais, que, dependendo da recomendação médica, podem ser aplicados algumas vezes por semana, independentemente de haver ou não sexo. Esse tipo de produto geralmente é combinado com o uso de lubrificantes à base de água, sem perfume, cor e sabor, para evitar irritações. A versão em supositório é interessante porque derrete durante as preliminares enquanto o gel pode ser espalhado durante o ato sexual ao redor e na entrada da vagina e também no pênis, nos dedos ou acessórios sexuais que podem ser utilizados. Dependendo do caso, há médicos que ainda prescrevem estrógenos tópicos, especialmente quando as paredes da vagina ficam mais finas e menos elásticas em consequência da menopausa precoce desencadeada pelo tratamento oncológico (em geral, esse efeito é causado pelo medicamento que a paciente tem de tomar por cinco ou dez anos, justamente para controlar a produção hormonal e evitar que o câncer retorne); e o uso de laser genital para estimular a produção de colágeno e elastina, melhorando o tônus e a hidratação local.

Desistir não é opção

Mesmo que, durante o tratamento, aconteçam momentos em que a relação sexual não seja possível, é importante tentar manter a mente aberta para novas formas de sentir e proporcionar prazer. Entre as atitudes mais importantes engloba-se uma boa conversa com o parceiro ou a parceira. Às vezes, por receio de provocar dor ou desconforto, o companheiro ou a companheira chega a evitar o contato físico com quem está passando pelo tratamento, e a pessoa pode entender a mensagem de maneira errada. Manter a boa comunicação também ajuda a desenvolver confiança para pedir ao outro que tenha um papel mais ativo nos dias de maior cansaço e fraqueza ou que conduza os toques e carícias quando a sensibilidade estiver à flor da pele ou a penetração não for confortável. O mesmo vale para tentar posições diferentes, em que a mulher fique no controle dos movimentos, da força e da velocidade do corpo e também da profundidade da entrada do pênis na vagina. Você pode, inclusive, descobrir novas formas de ter e dar prazer, ampliando suas possibilidades, por exemplo, com exercícios que podem servir para apimentar sua relação mesmo depois que o tratamento oncológico terminar.

Outra estratégia é planejar a relação sexual para os dias de menos dor, e se estiver usando medicação para contê-la, verificar com o médico a possibilidade de tomar a dose uma hora antes do sexo para aproveitar sua ação relaxante. Seja qual for a situação, é importante tentar tirar a dor e os pensamentos negativos do foco para se concentrar na felicidade do momento, o que favorece a excitação, a dilatação da vagina e o aumento da produção de lubrificante natural – ingredientes perfeitos para dar e sentir prazer.

Autoestima é afrodisíaco

Pensando na metáfora de olhar o copo meio cheio em vez de meio vazio, as implicações sexuais do câncer podem funcionar como estímulo para redescobrir a própria sexualidade e até mudar a forma de se relacionar com o(a) parceiro(a), pois toques, carinhos e abraços também podem ser protagonistas. Mas, para tudo isso valer, é essencial ter sempre em mente as próprias qualidades e buscar soluções para o que quer que esteja prejudicando a entrega: a perda de cabelo, por exemplo, pode ser resolvida com o uso de uma peruca ou um lenço; a palidez e as olheiras, com maquiagem; a retirada das mamas na mastectomia, com um top de renda ou sutiã com enchimento. Às vezes tudo isso que parece impedimento está muito mais na cabeça de quem está passando pelo tratamento e não está feliz com sua imagem.
Há muitos relatos de parceiros que dizem que a mulher ficou ainda mais bonita e atraente ao enfrentar o câncer, isso porque se mostrou guerreira e desenvolveu um brilho no olhar que se tornou mais estimulante que os atributos físicos estereotipados.

Agora que ficou claro que o câncer, por si só, não é uma contraindicação para o sexo, converse com seu médico para usar todos os recursos disponíveis para aproveitar esse momento tão importante e saudável da vida.

“Acredito que a autoestima é um poderoso afrodisíaco. E, como nunca tive problemas com minha autoimagem, mesmo quando fiquei careca, por causa da quimioterapia; sem peito, porque fiz mastectomia; e, para completar, com a perna cheia de trações de ferro, devido a um acidente de trânsito que tive durante o tratamento oncológico; não deixei de me achar bonita nem de me relacionar. E olha que naquela época eu nem tinha namorado fixo, só ‘ficantes’. Para não assustá-los, já que muitos homens se impressionam, por serem mais visuais do que as mulheres, eu usava uma peruca linda, me maquiava e colocava um top de renda sedutor. Tudo corria superbem, porque meu propósito sempre foi ser feliz.”

Joana Jeker dos Anjos é empreendedora social, ativista na causa do câncer, autora do livro O grande encontro e fundadora e presidente da Recomeçar – Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília, que atua desde 2011 na construção de políticas públicas oncológicas.