Muito se fala sobre como cuidar das mãos e dos pés    e principalmente das unhas – durante o tratamento oncológico. É comum surgirem várias dúvidas nesse período, como: posso retirar as cutículas? Está liberado o uso de esmaltes? E quanto aos cremes para mãos e pés, tem alguma recomendação especial? Saiba o que pode ser feito, sem riscos, para cuidar bem das mãos, dos pés e das unhas, e para evitar que a pele delicada e sensível seja afetada. Assim, você poderá se manter entre a maioria das brasileiras que vai à manicure semanalmente, sem deixar que sua beleza e autoestima literalmente escapem pelos dedos.

Como acontece com todo o corpo, as mãos, os pés e as unhas também se ressentem com a quimioterapia e a radioterapia. “A pele do dorso das mãos, que já é naturalmente mais fina e desidratada pelo fato de ter poucas glândulas que produzem a oleosidade, tende a ficar muito ressecada e sujeita a manchas. A situação se agrava ainda mais para quem se dedica aos afazeres da casa, usando detergente, cloro e outros produtos químicos sem calçar luvas”, avisa a dermatologista Kédima Nassif, que ressalta: “As luvas devem ser de vinil ou silicone, nunca de látex, porque esse tipo de material aumenta as chances de alergia”. A médica também recomenda sempre higienizar bem as mãos para evitar a contaminação com bactérias, principalmente neste momento em que a pessoa está com a imunidade baixa em função do tratamento oncológico. E avisa que para voltar a cuidar das mãos e dos pés como sempre fez é preciso que a pele se restabeleça por completo, o que pode acontecer até um ano e meio depois da radioterapia e cerca de três meses após a última sessão de quimioterapia. De qualquer forma, o tempo para retomar o uso de determinados produtos sempre vai depender da avaliação do seu dermatologista e seu médico, pois cada caso demanda um diagnóstico específico.

Lavar bem as mãos, sempre, mas com cuidados extras

Um alerta dos médicos durante a quimioterapia que vale ser reforçado se refere à higiene. Afinal, sua imunidade está baixa em consequência também do tratamento. Por isso é importante lavar bem as mãos, várias vezes ao dia. Porém, se a água e o sabonete também favorecem a desidratação da pele, o que fazer? “Diante desse fato e para evitar que de tão secas suas mãos comecem a pinicar, coçar e acabem machucadas, aumentando o risco de infecções e a chance de desenvolver alergias que você não tinha, se discipline a aplicar hidratante à base de ceramidas, silicone ou glicerina e protetor solar FPS 30+ todas as vezes que lavar as mãos. Sim, após cada lavagem é preciso hidratar para garantir que você não fique dolorida nem incapacitada de fazer tarefas simples, como pegar o batom dentro da sua bolsa, preparar sua própria comida ou enfiar a blusa dentro da calça”, diz a doutora Kédima Nassif. Uma dica é deixar um pote de hidratante ao lado do sabonete neutro (de preferência líquido) na pia e levar uma embalagem de bolsa para reaplicar após as lavagens fora de casa.

Nada de remover a cutícula

Outra atitude essencial durante o tratamento oncológico é parar de tirar ou empurrar as cutículas. E não só na manicure, mas em casa também, mesmo que usando seu próprio kit de alicate e espátula. “Até o menor dos cortes facilita a entrada de microrganismos causadores de infecções”, esclarece a dermatologista Carolina Ferolla, de São Paulo, que ensina um ótimo jeito de disfarçar o excesso de pele ao redor das unhas e, consequentemente, zerar a vontade de puxá-las com os dentes, outro ato absolutamente proibido também pelo risco de lesões: “Aplique uma gotinha de óleo vegetal, como o de amêndoas ou de semente de uva, em cada dedo e massageie de leve todo o contorno da unha. Mesmo fazendo isso, um dia sim, outro não, o resultado é surpreendente”, garante a médica. Esse hábito, inclusive, você pode levar para a vida toda, pois quanto menos retirar as cutículas, mais suas mãos e seu sistema imunológico estarão preservados.

Colorir as unhas

Para melhorar ainda mais a autoestima e, de quebra, disfarçar eventuais manchas esbranquiçadas ou escuras que apareçam nas unhas, o bom esmalte, companheiro de tantas horas, está liberado. Porém, com restrições: “Escolha produtos de marcas conhecidas e tome alguns cuidados extras, como usar esmalte hipoalergênico, e, para retirá-lo, opte por um removedor sem perfume. A acetona pode enjoar, pelo cheiro forte, e ainda fragilizar as unhas”, arremata a dermatologista Kédima Nassif.

Mudança de hábitos para mãos e pés

Assim como as mãos, os pés também pedem cuidados para reduzir os riscos de inflamações durante o tratamento oncológico. “Sempre reforço que durante a quimioterapia e a radioterapia a pessoa siga o seguinte ritual: pare imediatamente de roer as unhas, caso tenha esse costume; e troque o cortador pela lixa, para garantir que a base fique reta e o cantinho não leve ao encravamento das unhas dos pés. Por falar neles, como a frieira também é uma preocupação, ensino a secar bem com uma toalha limpa e seca e ainda jogar um jato de ar frio do secador entre os dedos dos pés depois do banho; evitar usar talco, já que ele pode ressecar ainda mais a pele que já está desidratada; e não usar sapatos apertados, pois a pressão pode fazer as unhas se soltarem ou quebrarem por também estarem fragilizadas devido ao tratamento”, avisa a dermatologista Kédima Nassif.

“Cada detalhe contou durante o tratamento oncológico. O cuidado  com as mãos e as unhas fez parte do ‘pacote’ da minha produção constante. Nunca deixei de pintar as unhas nem de me maquiar. Continuei indo à manicure. Apenas parei de tirar a cutícula. No começo estranhei, mas aos poucos a resposta foi positiva e a cutícula ficou bem fininha, fácil de disfarçar. A pele das mãos também ficou mais sensível e começou a ressecar com facilidade, então passei a usar mais hidratantes. Sabe, acho que nisso o câncer me ajudou muito, pois hoje me cuido ainda mais do que antes”.

Gisele Gengo, especialista em psicologia positiva, por causa do câncer, teve que retirar as duas mamas; fez quimioterapia e radioterapia, sem nunca descuidar de sua autoestima.