Alterações de peso também são comuns no enfrentamento do câncer. E, redobrar os cuidados com a alimentação, a ingestão de nutrientes e lançar mão de alguns truques não só ajuda a controlar o aumento ou a diminuição das medidas corporais, como permite melhorar o estado de ânimo, combater as náuseas e reduzir o inchaço, entre outros efeitos colaterais do tratamento oncológico.

Geralmente, o câncer é associado à imagem de uma pessoa bem magrinha e frágil. E isso realmente pode acontecer devido aos efeitos colaterais da quimioterapia, como perda do apetite, náuseas e vômito. Mas, também há quem engorde durante o tratamento oncológico. As chances disso acontecer são maiores com a mulher que está na pré-menopausa e é submetida à quimioterapia e também com a que entra na menopausa precoce pelo uso de quimioterápicos ou que faz uso de outros medicamentos oncológicos. A hormonioterapia é um deles, já que favorece o acúmulo de gordura localizada por diminuir a quantidade de estrogênio e de progesterona no organismo ao mesmo tempo em que reduz a massa muscular. E, quanto menos músculos, menos calorias o corpo gasta para executar todo tipo de atividade, de andar dentro de casa a correr na esteira.

Outra medicação que favorece o ganho de peso são os corticoides. Usados para combater as náuseas pós-quimioterapia, eles podem aumentar o apetite, provocar retenção de líquidos, perda de músculos e redistribuição da gordura pelo corpo.

Mas os remédios não são os únicos culpados. “Alguns estudos apontam que tem gente que engorda porque durante a quimioterapia sente mais vontade de comer doces e massas e também porque diminui drasticamente suas atividades devido aos efeitos colaterais do tratamento, entre eles a fadiga”, diz o nutricionista e educador físico Daniel Barreto, do Meniá Centro de Prevenção, em São Paulo.

Saúde e autoestima

Ficar atenta à oscilação do peso não só favorece a autoestima como também evita uma série de complicações de saúde, como o aumento do risco de ter pressão alta, diabetes, doenças cardíacas e mais chances de ter uma recidiva ou até mesmo de desenvolver outros tipos de câncer.

“Mas, em nome de todos esses benefícios, é importante não se preocupar única e exclusivamente em cortar calorias. Afinal, a perda de peso também pode levar à perda da massa muscular, o que pode deixar a pessoa muito debilitada, sendo que ela já está fragilizada pelo tratamento oncológico. Fundamental mesmo é que a nutrição seja qualitativa, ou seja, que ela ofereça uma boa variedade de vitaminas, minerais e proteínas para que o corpo fique bem nutrido e energizado”, diz a nutricionista especialista em nutrição comportamental Cristiane Durante, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Na prática, isso significa dar preferência a alimentos naturais, como frutas, legumes, verduras, peixes e aves; e prepara-los da maneira mais saudável possível. “Cozinhar, assar, grelhar e refogar é sempre melhor do que fritar”, completa a especialista.

Boas escolhas

Mas, a alimentação também pode ser usada para combater vários dos efeitos colaterais do tratamento oncológico, por isso é tão importante contar com o auxílio de um nutricionista da equipe oncológica ou que seja recomendado pelo seu médico. “O inchaço, por exemplo, pode ser combatido evitando o excesso de sódio, presente no sal e também em alimentos embutidos e processados; e tomando água, que ajuda a eliminar o sódio excedente no corpo. E, cuidado com os chás diuréticos, porque eles podem interagir com as medicações oncológicas e prejudicar a resposta do tratamento”, alerta o nutricionista Daniel Barreto.

Segundo ele, o inchaço também pode estar relacionado ou se agravar com a baixa ingestão de proteína. “Ela deve estar presente em todas as refeições, sendo que entre as fontes de melhor qualidade estão feijão, castanha e quinoa. Carne também é uma ótima proteína, mas é importante não comê-la todos os dias porque sua digestão é lenta. E a náusea às vezes ocorre devido a uma irritação do estômago, que fica ainda mais sensível quando a comida demora muito tempo para ser digerida. Isso explica porque é recomendado não tomar líquido durante as refeições, evitar bebidas com gás e cafeína, fritura, grandes volumes de comida, chocolate, gengibre, pimenta, alho, cebola e alimentos gordurosos. Isso vale inclusive para itens saudáveis, como o azeite. Moderação é a palavra de ordem”, avisa o nutricionista. Na prática, a pessoa pode comer arroz temperado com cebola e alho, por exemplo. Mas se, na mesma refeição, ingerir bife acebolado com suco de melancia com gengibre, com certeza, vai ter queimação e ânsia de vômito.

Já o estado de ânimo tem muito a ver com a ingestão de nutrientes. “Uma alimentação pobre em ferro, zinco e vitamina B12 tende a provocar cansaço e indisposição. E esses nutrientes são encontrados principalmente nas folhas verde-escuras, como espinafre e couve, e também na semente de abóbora, nas castanhas, no feijão e nas carnes. Por outro lado, pouco adianta seguir uma dieta superequilibrada se não mastigar direito. Para que o organismo consiga absorver os nutrientes, o alimento precisa ser muito bem triturado na boca, nada pode ser engolido em pedaços grandes”, avisa a nutricionista Cristiane Durante.

“Faço quimioterapia há 18 anos e, por isso, sei bem os efeitos colaterais do tratamento e o quanto a nutrição me ajudou a enfrenta-los nessa longa jornada pela vida. Na verdade, sempre fui de comer direitinho, mas com o enfrentamento do câncer, acabei cuidando ainda mais da alimentação para poder me sentir bem e ter ânimo. Afinal, sou muito ativa, militante, gosto de ficar na rua. Como tenho uma horta orgânica, pego muitos itens da minha própria produção. No mais, dou preferência a peixe, evito farinha branca e açúcar, mas não passo vontade, apesar de dar preferência ao doce das frutas. Outra coisa importante que aprendi é que não dá para levar nada a ferro e fogo. Ou seja, se você está enjoada, não precisa comer beterraba se não estiver a fim. O importante é escolher a comida que te atrai, para que você consiga se alimentar e não fique em jejum, senão a náusea vai piorar. E também se presentear depois de cada sessão de quimioterapia, porque você merece aproveitar as boas coisas da vida.”

Leoni Margarida Simm, 63 anos, é socióloga e presidente voluntária da instituição AMUCC – Amor e União Contra o Câncer, de Santa Catarina, que trabalha pelos direitos das mulheres com câncer. Leoni tem câncer de mama metastático. Foi diagnosticada pela primeira vez há 18 anos e já teve oito recidivas.