O tratamento oncológico vem evoluindo e trazendo muitos benefícios. No entanto, ainda provoca alguns efeitos indesejados. Para combater o câncer, os medicamentos precisam atuar profundamente, e acabam afetando todas as células do corpo, inclusive as saudáveis. Alguns sinais são vistos e sentidos na pele, que pode ficar vermelha como se tivesse sido queimada pelo sol, ganhar manchas, se tornar sensível e extremamente ressecada, o que provoca um misto de desconforto e irritabilidade e, no fim, pode levar à baixa autoestima, em função das alterações na imagem. Contudo, há estratégias bastante simples para promover bem-estar e procedimentos estéticos que ajudam a recuperar a aparência desejada.

Para preservar a saúde e a boa condição da pele, a recomendação é começar a cuidar do rosto e do corpo antes mesmo de iniciar o ciclo de medicações prescritas pelo oncologista. O primeiro passo é mudar alguns hábitos, como tomar banhos quentes e prolongados. “Além de tomar banho mais rápido e deixar a água na temperatura morna, quem tem câncer deve suspender o uso da bucha e de esfoliantes, porque eles removem a oleosidade natural que protege a pele. Também é interessante trocar o sabonete em barra convencional por um que tenha pH semelhante ao da pele, que é de mais ou menos 5. Como nem sempre isso vem especificado no rótulo, a melhor saída é escolher um sabonete líquido enriquecido com ingredientes hidratantes e, mesmo assim, não se ensaboar demais”, alerta a dermatologista Maura Bourroul, especialista em câncer de pele.

Outra dica que ajuda muito é aplicar um óleo corporal antes de entrar no chuveiro. “Ele cria uma camada protetora na pele, diminui a agressão provocada no banho e proporciona conforto na hora de se secar; o que, aliás, deve ser feito com delicadeza, usando uma toalha bem macia, apenas pressionando levemente – e nunca esfregando – o corpo. Na sequência, aplique um hidratante, pois a umidade cutânea favorece a absorção do creme”, completa a médica, que lembra da necessidade de evite usar perfume, loção tônica adstringente ou qualquer outro produto que tenha álcool.

Se mesmo tomando todos esses cuidados a pele ficar irritada, coçando e descamando, converse com o seu médico para checar a necessidade de usar, por exemplo, um creme específico para tratar esses sintomas.

“Sempre fui vaidosa, e não perdi essa característica nem quando recebi o primeiro diagnóstico do câncer de mama há 14 anos, nem agora, com a volta da doença, com mais uma série de quimioterapia, a necessidade de retirar uma mama e às vésperas de encarar a radioterapia. Dessa vez, depois que saí do oncologista, consultei um dermatologista porque eu já sabia das alterações que os tratamentos provocam na pele. Quis saber quais cosméticos deveria – e poderia – comprar e quais precisaria suspender. Além de manter o protetor solar e o hidratante corporal e facial, para mim, foi indispensável usar maquiagem diariamente sobre o hidratante. Não aguentaria a aparência de quem está derrubada pela doença.”

Alessandra Sandoval, 47 anos, pedagoga. Teve câncer de mama há 14 anos e agora luta contra a recidiva. Para isso, fez quimioterapia, mastectomia e se prepara para iniciar as sessões de radioterapia

Proteção e hidratação sempre

A pele que está ressecada também está fragilizada. “Quando ela perde sua integridade, fica à mercê de alergias e pode ter prejudicadas diversas das suas funções, como a regulação da temperatura corporal e a proteção contra agentes externos, entre eles poluição, vento, ar condicionado, frio, calor e, principalmente, radiação ultravioleta emitida pelo sol”, alerta a dermatologista Maria Figueiredo. Daí a importância de evitar ao máximo a exposição ao sol e incluir na rotina de cuidados o protetor solar e um produto hidratante livre de álcool, como o leite de aveia ou o óleo de amêndoas. Ambos devem ser aplicados em todas as áreas expostas, inclusive nas “esquecidas”, como pés e orelhas, além da cabeça, caso tenha perdido o cabelo.

Se for viajar, consulte antes o seu médico e, além das recomendações citadas no texto acima, procure passear apenas em horários em que o sol está mais baixo, ou seja, até as 10 horas e depois das 16 horas. Reforce a proteção usando calça e blusa de mangas compridas, óculos de sol, chapéu com aba larga, lenço na cabeça e ao redor do pescoço e da nuca.

Essas recomendações são válidas também para quem faz radioterapia. Afinal, esse tratamento costuma deixar a pele avermelhada, com uma aparência que lembra a queimadura provocada pelo sol; e depois de um tempo tende a ficar escura. “Normalmente nada é feito contra isso, a não ser esperar que a tonalidade da pele volte ao normal. Enquanto isso, é bom caprichar na aplicação e reaplicação do protetor solar e evitar o sol, já que a radiação ultravioleta piora a hiperpigmentação”, avisa a dermatologista Juliana Toma, especialista em oncologia cutânea pelo Hospital Sírio Libanês.

De volta à vida normal

Uma das queixas mais comuns da mulher que está em tratamento contra o câncer é o surgimento de manchas escuras no rosto, parecidas com o melasma da gravidez.
“Essas marcas podem aparecer devido à ação dos medicamentos oncológicos ou daqueles usados nos esquemas de quimioterapia para prevenir náusea e vômito”, explica a dermatologista Maura Bourroul. Mesmo depois que o tratamento termina, esses medicamentos continuam influenciando nos melanócitos, que são as células responsáveis por produzir a melanina, que é o pigmento que dá cor à pele. Por isso é que a proteção solar regular é tão importante.

Quando o tratamento termina, é normal querer recuperar a aparência de antes, e, para isso, buscar procedimentos estéticos. Porém é preciso ir com calma e respeitar sempre a condição da pele. Para voltar a fazer tratamentos de rejuvenescimento, como os que utilizam toxina botulínica, por exemplo, que ajuda a eliminar rugas de forma temporária, é preciso cautela. “A substância em si não tem qualquer contraindicação para quem se tratou de câncer. Entretanto é fundamental checar com o médico como está a imunidade da pessoa após o tratamento oncológico, para garantir que ela não fique suscetível a infecções que poderiam ser provocadas até pelas picadas da microagulha usada para injetar a toxina botulínica. E, como esses furinhos ainda podem causar pequenos sangramentos e atingir um ou outro vasinho, é importante analisar a coagulação e se há alguma medicação que ainda está sendo tomada que possa provocar hiperpigmentação, fazendo com que um hematoma evolua para uma mancha difícil de ser tratada”, alerta Maura Bourroul.

Falando em manchas, não se deve usar nada agressivo para combatê-las durante o tratamento contra o câncer, caso de ácidos e clareadores à base de hidroquinona, mas, sim, opções que não causem tanta irritação, como vitamina C e alguns antioxidantes. Já peelings, laser, micropigmentação e limpeza de pele só são liberados depois que a pele estiver completamente recuperada, o que pode acontecer num período de três a seis meses após o término do tratamento, e pode variar caso a caso. Por isso, não use nem faça nada por conta própria; sempre converse com o seu médico.